Se há um sítio em que o português pacato e simpático se transforma, esse lugar estranho, mas frequentemente utilizado, chama-se: carro. Exactamente. Dentro do bolinhas todo o cavalheiro se transforma no maior jagunço psicopata do asfalto. É só ouvir o motor do estupor do carro a bombar, para começar a sentir o formigueiro no pé. Para que vos quero cavalos. Toca a acelerar até ao red line. É como se de outra pessoa se tratasse. Dupla personalidade. No trabalho é lento que nem uma lesma, encosta-se e gosta de coçar os genitais. No carro é rápido que nem um trovão, estupidamente impaciente, e gosta de se encostar ao carro da frente quando atinge os 180 km/h. Encostadinho e a fazer sinais de luzes. Se demorar muito ainda levas com a buzina acorda-camelos. Até aqui tudo bem. Quem é que já não ultrapassou pela direita na autoestrada e fez um manguito para o atrasado da frente que não saía nem por nada da faixa esquerda? E é cá uma sensação de libertação... uma massagem anti-stress ao ego.
Agora: estamos no final das mini-férias da Páscoa. Domingo, 18h. Autoestrada A2. Troço Grândola - Lisboa. 40 kms de bicha. Pára - Arranca. E tenho um camelo atrás de mim, montado num BMW artilhado com faróis tipo Alexandra Lencastre, a fazer-me sinais de luzes! Pensei duas coisas: mas para onde é que este Transformer da Páscoa quer ir? E por mil diabos, onde é que andam os faróis da Lencastre?
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